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70 anos de televisão brasileira: o próximo passo da TV é a morte?

No dia 18 de setembro, a televisão brasileira completa mais um aniversário e entra em seu septuagésimo ano de vida. São 70 anos de relação íntima e diária com o telespectador. Agora, já uma senhora de idade avançada, calejada pelas rugas das novas tecnologias, devemos nos perguntar: por quanto tempo mais a televisão resistirá? Será que está na hora de nos prepararmos para a grande despedida? Estamos prontos para dizer “adeus” à Queridinha do Brasil?

Vejamos… Quando surgiram os livros digitais, editoras anunciaram: “é o fim dos livros físicos!”. Quando surgiram os aplicativos de mensagens instantâneas, estudiosos anunciaram: “é o fim das ligações por voz!”. Quando surgiu a televisão, produtores anunciaram: “é o fim do rádio e do cinema!”. Quando surgiram as redes sociais, filósofos anunciaram: “é o fim da interação na vida real!”. Quando surgiram os serviços de streaming, músicos anunciaram: “é o fim da música paga!”.

Bem, contrariando as expectativas apocalípticas, nenhuma das formas de interação ou de comunicação acima, de fato, morreu. Na verdade, todas elas se transformaram e se atualizaram para que se mantivessem atuais. Mas que fique claro: a renovação é fundamental. Quem não renova vai pra cova – já dizia o ditado que acabamos de inventar. Viver com a mente no passado pode ser, sim, um atestado de falência. Se quiser permanecer na vida cotidiana de um mundo contemporâneo, a televisão (assim como outros meios de comunicação) precisa se readaptar. A cada tecnologia descoberta, há um rearranjo natural das mídias – mutações. Essas mudanças contínuas servem para reposicionar um serviço midiático aos desejos e às necessidades dos consumidores. Por exemplo: se não há mais tempo de assistirmos TV em casa, tratem de colocar a TV no bolso dos nossos jeans… Se o telespectador quer voz, deixem-o falar.

Podemos aqui antecipar e apostar que, apesar do fenômeno da convergência midiática e da força avassaladora da internet, a televisão não perecerá. Dizem que a juventude não é um período linear de vida, mas um estado de espírito. Ao que tudo indica, apesar de velha, a televisão faz um movimento intenso de viver em jovialidade e de se integrar aos novos tempos. Pelo menos é o que se percebe das emissoras conectadas com o tempo presente, vide a chegada da Globoplay ou a repaginada do canal Viva.

Vejamos o que aconteceu com a “crise existencial” do canal VIVA. Há algum tempo, o VIVA estava com idade avançada demais, servia a um público das antigas demais, era old but gold demais. Mas, aos poucos, começou a angariar um público diferente a partir de certo sucesso na internet, conquistando pessoas mais conectadas e juvenis. Nesse contexto, o VIVA viu uma oportunidade de renovar os ares e foi procurar uma nova roupagem. Mudou bastante. Jovializou-se.

De acordo com os diretores de Comunicação do canal, o VIVA se preocupou em renovar o guarda-roupa: as cores das vinhetas, o logotipo, as assinaturas, o slogan e o tamanho da fonte das chamadas comerciais. Rejuvenesceu-se. Além disso, foi para a internet e se abriu para a interatividade. Trouxe conteúdo simultâneo. O tamanho das fontes nas vinhetas aumentou e serviria para aqueles que assistem à TV pelo smartphone ou tablet. As cores fortes tentavam simpatizar com o público juvenil, sem arranjar briga com os mais velhos. E até o slogan alterou-se de “Do Seu Jeito” para “As Melhores Surpresas”, atendendo à demanda por conteúdo diariamente “surpreendente” que surge lá na esfera da internet. É válido lembrar que “Do Seu Jeito” precisou sair de cena porque só a internet consegue ser, de fato, do jeito que o consumidor deseja.

Se hoje a internet tem o poder de refazer a linguagem e a estética televisivas, quem se lembra de onde nasceu a linguagem online? “É possível perceber que a internet surgiu da remediação de características próprias dos meios de comunicação tradicionais, como a imagem da televisão ou a oralidade do rádio”, diz uma estudiosa em Comunicação, Soraya Vieira. E olha só que interessante: hoje em dia é a TV quem também se apropria da linguagem remediada da web.

A convergência midiática chegou. E com ela novos dispositivos que integram várias linguagens em um mesmo lugar. As SmartTVs, por exemplo, que são televisões, mas também computadores, plataformas de vídeo etc. São um agrupamento de dispositivos num único, tal como aconteceu com os smartphones. Ainda a passos lentos, as SmartTVs mostram-se promissoras porque poderiam embaçar ainda mais as fronteiras entre o online, o televisivo e o radiofônico, sem decretar a morte de nenhum deles. Netflix é televisão? Spotify é rádio? Conteúdo da AppleTV pode concorrer ao Oscar? O canal no Youtube “Que História É Essa, Porchat?” é internet ou é televisão? Produções da Amazon Prime Video podem concorrer ao Emmy (prêmio destinado a conteúdo televisivo)? Perguntas como essas são mais importantes do que conseguimos imaginar, porque mostram um caminho sem volta sobre a convergência dos meios de comunicação e sobre a fusão de linguagens.

Como dissemos, a televisão brasileira comemora seus 70 anos nesta semana. Reconhecida pela sua audiência astronômica, a velha-senhora TV não está com os dias contados. Não é preciso pensar em frases para a sua lápide nem mesmo escolher a cor do mármore do túmulo… Já que não há sinal de que a televisão falecerá. Pelo contrário, tão breve quanto nem imaginamos, a TV ressurgirá com uma nova roupagem, de vestido de gala vermelho, pronta para dizer a todos: “vocês não imaginam o prazer que é estar de volta...”. Aguardem. E, por enquanto, uma salva de palmas à estrela do momento! Vida longa à TV!

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